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“É Ok não estar OK”

“No esporte, porque ninguém quer dar uma vantagem para o oponente ou mostrar qualquer fraqueza, nós não falamos sobre saúde mental o tanto quanto deveríamos. E nós realmente deveríamos”.

A fala acima, do piloto da McLaren Lando Norris, 21, no final de 2020, vem ganhando mais importância com os recentes eventos envolvendo atletas e saúde mental.

As Olimpíadas de Tóquio trouxeram a expectativa de ver novamente a ginasta Simone Biles, de 24 anos, em ação. Depois de sair dos últimos Jogos carregada de medalhas, todos os olhos estavam voltados para a ginasta estadunidense. Depois de não ir tão bem no primeiro dia de competição, o alerta se acendeu. Algo estava acontecendo por trás da postura impecável e semblante forte que a ginasta sempre carregava. Na final por equipe, veio o motivo: Simone Biles desistiu de competir em equipes e no individual geral para cuidar de sua saúde mental.

Simone Biles aborda a saúde mental, principalmente após toda pressão e expectativa gerada pelas Olimpíadas – Foto: reprodução

“Fisicamente eu me sinto bem. Emocionalmente, varia de acordo a hora e o momento. Chegando aqui para as Olimpíadas e sendo a atração principal não é fácil. Por isso estou tentando passar um dia por vez e aí veremos”, revelou a ginasta, que ainda mencionou como o longo processo de seleção para os Jogos e o ano extra de treinamento para esse ciclo olímpico, também impactaram sua saúde mental.

Frescura, podem pensar alguns, já que se tratam de atletas de alto nível, acostumados com as cobranças. Porém, a cada dia, mais atletas estão se abrindo para suas inseguranças, medos e ansiedades, mostrando que a saúde mental dos competidores precisa ser discutida com urgência.

O caso de Simone Biles vem poucos meses depois de outro caso parecido. Em maio de 2021, a tenista Naomi Osaka, 23, não quis participar das entrevistas coletivas do torneio Roland Garros. O motivo: lutando contra a depressão desde 2018, a tenista japonesa fica ansiosa quando tem que dar entrevistas. Não se sentindo bem mentalmente ao chegar em Paris, ela não queria ter que passar pelas perguntas dos jornalistas no torneio francês, o que poderia agravar seu problema. Ao invés de acolhimento, Naomi encontrou críticas e ameaças, decidindo abandonar a competição.

“Eu comuniquei que eu queria pular a conferência de imprensa em Roland Garros para exercitar o autocuidado e preservação da minha saúde mental. Eu insisto nisso. Atletas são humanos”, declarou a tenista, que foi pressionada a revelar seus sintomas, já que a organização e muitos jornalistas não acreditaram em sua história. A tenista, no entanto, recebeu muito apoio de outros atletas, como o piloto Lewis Hamilton.

O heptacampeão, de 36 anos, já vem há algum tempo batendo na tecla da saúde mental e sua luta contra suas próprias inseguranças. “Há dois lados meus. O primeiro é o que você vê na TV. O piloto em mim que é competitivo, implacável e faminto quando eu abaixo a viseira. Quando a viseira está abaixada, todos os meus medos, inseguranças e dúvidas são deixadas de lado e minha concentração entra em ação e eu não me abalo até que o trabalho esteja terminado. O segundo é simplesmente eu. Alguém que ainda está tentando se encontrar, dia após dia, igual a você. Tentando encontrar a paz interior, gerenciar o tempo, balancear trabalho e vida, encontrar tempo para a família e amigos, trabalhando para gerenciar minhas emoções e tentar encontrar tempo para outras coisas que eu sou apaixonado”.

A longa rotina de treinamento, a exigência por resultados, a pressão da mídia e dos fãs, vem cobrando um preço alto dos atletas, que começam cedo e sem preparo para lidar com tudo isso, como revelou Lewis Hamilton.

“Quando você é tão jovem e com tanto peso nas costas, isso é inevitável. O fato é que, quando você é jovem, você é jogado no centro das atenções e nos holofotes e isso pesa muito em você. E o que acontece, é que a maioria de nós não está preparada. Eu lembro quando eu cheguei na F1. A equipe tinha um RP, mas eu nunca fui preparado para ser jogado na frente de uma câmera. Eu nunca fui guiado no que eu deveria me atentar ou fui ajudado a passar por isso”.

Vendo a importância do tema, principalmente com a pandemia, a equipe McLaren tem mantido uma parceria com a fundação Mind, que visa o bem-estar mental.

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E Lando Norris aproveitou a deixa e se abriu sobre as dificuldades enfrentadas no começo de sua carreira na F1, chegando em uma das equipes mais tradicionais da categoria com apenas 19 anos.

“Durante minha primeira temporada na F1, eu posso ter parecido como o novato cheio de confiança e entusiasmo, mas isso não era bem o caso. Eu encobri o fato de que eu estava sofrendo muito com o nervosismo e a ansiedade. Apesar de conseguir chegar na F1 – algo que eu sonhei desde que comecei a correr – eu já me vi questionando minha autoconfiança, preocupado se eu tinha o talento necessário, me comparando com meu companheiro de equipe e com outros pilotos. Isso pode bagunçar sua cabeça. É difícil lidar com isso e eu tenho certeza que muitos outros pilotos sofreram com isso no passado”, disse Norris, que ainda revelou ter trabalhado com um mental coach até 2019 e que agora conta com a ajuda de seu grupo de trabalho (engenheiros e treinador) quando precisa de ajuda, usando também a meditação para lidar com a pressão.

Seja se destacando no esporte como Lando Norris, ou tendo problemas, as cobranças sempre estão acompanhando os atletas, mas muitos não falam sobre a saúde mental – Foto: reprodução McLaren

Outro piloto a se abrir sobre suas dificuldades foi George Russell, de 23 anos, revelando que procurou a ajuda de um psicólogo.

“Eu também tive momentos difíceis e aprendi que conversar com a pessoa certa, claro que falar com sua família e amigos também é bom e faz bem, mas ter ajuda profissional foi muito importante. Isso me permitiu voltar mais forte, mais saudável do que nunca e eu serei capaz de ir melhor por conta disso”, revelou o jovem piloto britânico. “Muitas pessoas, especialmente homens, veem a psicologia como uma fraqueza, o que absolutamente não é o caso. Sua mente é a ferramenta mais poderosa do seu corpo”.

E o problema da saúde mental não é algo que veio com a pandemia. Em 2017, o nadador estadunidense Michael Phelps também revelou que sofreu crises de depressão e que até pensou em suicídio. “Eu posso dizer que eu passei por pelo menos meia dúzia de crises depressivas. E na de 2014, eu não queria mais continuar vivo”, revelou o nadador, dono de 28 medalhas olímpicas e que agora busca dar apoio para jovens que sofrem com a saúde mental . “Eu basicamente carreguei cada emoção negativa que alguém pode carregar por 15, 20 anos e nunca falei sobre isso. E eu não sei porque naquele dia, eu decidi simplesmente me abrir. Mas desde aquele dia, tem sido muito mais fácil viver e muito mais fácil aproveitar a vida e é algo que eu sou muito grato’’.

Para Naomi, falar sobre saúde mental é algo importante não só para ela, mas também para as demais pessoas.

“Eu espero que as pessoas possam se identificar e entender que é OK não estar OK e é OK falar sobre isso. Há pessoas que podem ajudar e normalmente há luz no final do túnel”.

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