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Corrida caótica na Holanda realiza bagunça nas estratégicas e quebra cartilha das equipes

Sem um manual do certo ou errado, os times precisaram realizar as suas apostas. O GP da Holanda induziu alguns times ao erro

Neste fim de semana a Fórmula 1 correu em Zandvoort, circuito desafiador e que as condições climáticas contribuíram para tornar o sábado e o domingo ainda mais complicado para os competidores e suas equipes.

Em Zandvoort realizar ultrapassagens é um pouco mais complicado, pois o traçado é estreito. Realizar uma boa classificação é importante neste circuito, mas por ser uma prova muito estratégica é necessário ficar atento ao que está acontecendo na pista. Esse foi o fim de semana para ficar ligado no radar que estava monitorando a chuva, além da movimentação nos boxes. No entanto, escolher o momento para fazer as trocas de pneus se tornou algo desafiador, pois estava em jogo o desempenho e até a possibilidade de se atrapalhar em um pit-lane tão estreito.

É difícil no automobilismo afirmar que algumas situações aconteceram por sorte, mas quando a chuva cai em um circuito como este, o resultado se torna uma loteria. Existe o certo e o errado, mas é mais fácil analisar essa direção quando a prova já foi encerrada e sabemos para qual lugar aquelas escolhas levaram.

No sábado aconteceu uma situação que ultimamente tem ocorrido com recorrência na Fórmula 1: chuva durante a classificação. A pista estava molhada no começo da sessão e foi melhorando gradativamente. A ameaça de chuva atacou com uma possibilidade para a sessão, mas os pilotos lideram com a evolução no traçado na sua busca pelos melhores tempos.

Logan Sargeant chegou ao Q3, mas durante a última fase da classificação, quando a pista já contava com um trilho seco e os pneus macios eram utilizados, o piloto perdeu o controle do carro e acertou a barreira de proteção. Sargeant participou do GP da Holanda, mas não concluiu a corrida pois o carro apresentou uma perda de pressão hidráulica, confirmada pelo chefe de equipe da Williams James Vowles.

Ainda no final da classificação, gerando mais uma interrupção, tivemos Charles Leclerc que também perdeu o controle do carro. O monegasco, assim como Sargeant não terminou a corrida, o seu carro ficou danificado em um toque no início da corrida e além do problema com a asa dianteira, o assoalho também contribuiu para afetar o equilíbrio do carro.

Max Verstappen conquistou a pole nos últimos instantes da sessão, superando Lando Norris. O piloto holandês faturou a vitória diante da sua torcida, celebrando o fato de ter conquistado a nona vitória consecutiva na temporada, para se igualar ao recorde de Sebastian Vettel.

Estratégias que eram pensadas pela Pirelli em uma condição de pista seca – Foto: reprodução Pirelli

No domingo a corrida foi marcada pela chuva no começo e no final da prova. Os times precisaram ser ágeis para tomar a decisão de instalar os pneus intermediários e definir qual era o melhor momento para retornar aos compostos de pista seca.

Lando Norris começou a corrida ocupando a segunda posição, mas pouco depois da largada a chuva já começou a cair no circuito. A McLaren e o piloto demoraram para se decidir sobre o momento para instalar os pneus intermediários, desta forma o piloto britânico perdeu rendimento e quando realmente realizou a troca já tinha perdido muito espaço no grid. Oscar Piastri conduziu de uma forma muito boa com os pneus slick na chuva e permaneceu com os compostos da largada até a volta 15 quando realizou uma primeira troca de pneus e deu preferência por trabalhar outra vez com um segundo jogo de pneus macios.

Pneus escolhidos pelas equipes para o início da corrida, instantes antes da chuva cair no circuito. A direção de prova não atrasou o começo da corrida, para esperar a chuva e deixou os times quebrarem a cabeça para fazer as suas escolhas – Foto: reprodução Pirelli

Na Mercedes, a equipe foi obrigada a admitir o erro após o início da prova. Cometeram o equívoco de instalar os pneus médios no carro de Lewis Hamilton, quando a pista estava fria e sendo de difícil gerenciamento, agravando ainda mais com a chuva que caiu ainda no começo da prova. A equipe manteve George Russell na pista por mais tempo que o necessário e arcou com os problemas de realizar a troca dos pneus slick para os chuva fora do que era o ideal – para aqueles que foram por esse caminho.

Algumas equipes e pilotos susteram a escolha de permanecer com os pneus slick e não utilizar os pneus de chuva naquele começo de corrida, pois realmente foi algo passageiro. Porém, entre eles, Alexander Albon foi o competido que mais se deu bem com essa escolha. Largando com os pneus macios novos, Albon permaneceu na pista até a volta 44, antes de fazer um stint com os pneus médios e dois com os pneus intermediários para o final da corrida.

A McLaren foi por esse caminho com Oscar Piastri, mas chamou o piloto australiano com 15 voltas para realizar a sua primeira substituição de pneus. Nico Hülkenberg e Valtteri Bottas passaram pelas experiências de guiar com os pneus slick na chuva, mas quando a pista secou, em teoria eles começaram a ficar mais rápidos que os competidores que aguardavam o momento para abandonar os intermediários. No entanto nesta situação, apenas Albon e Piastri estiveram na zona de pontuação.

O fato de a pista ter secado rapidamente, provocou uma incerteza nas equipes se realmente compensava fazer aquela parada no começo da prova. A questão que para muitos, ficar lento na pista e ver os pneus slick levantando spray, não era uma situação que eles estavam a fim de lidar. Fora que existia o risco de batidas desnecessária e danificar até mesmo as novas peças que eles levaram para a Holanda.

Fernando Alonso retornou ao pódio neste fim de semana, fazendo uma estratégia semelhante a de Max Verstappen. O piloto gostaria de uma oportunidade maior para atacar o competidor da Red Bull e buscar uma vitória no retorno das férias. Alonso demonstrou muito controle ao longo de toda a corrida e seu jeito seguro para guiar o carro da Aston Martin colaborou no resultado do fim de semana.

Os pneus da rodada

Estratégias de pneus trabalhadas ao longo do GP da Holanda – Foto: reprodução Pirelli

C3 (macios – faixa vermelha): nas condições de pista fria como na Holanda, os pneus macios se tornaram os protagonistas do domingo. Apresentaram uma boa durabilidade por ser pneus da gama dura de compostos e forneceram aderência nesta situação adversa enfrentada no circuito de Zandvoort.

Na primeira parte da corrida, a Ferrari teve um erro grotesco com Charles Leclerc. Quando o monegasco foi chamado aos boxes ainda na primeira volta para instalar os pneus de chuva, a equipe não tinha se preparado para o pit-stop. Os mecânicos estavam posicionados aguardando o piloto, mas esqueceram de levar o conjunto de pneus. A parada demorou bastante e eles poderiam ter aproveitado o momento para substituir a asa dianteira do seu carro que estava danificada.

Carlos Sainz foi chamado para os boxes na volta seguinte e mesmo com a demora na troca dos pneus de Leclerc, o espanhol foi devolvido atrás do monegasco. Poucas voltas depois, Carlos pediu para que o companheiro de equipe não o segurasse, já que estava com o carro danificado. Leclerc ficou sozinho na pista e foi ultrapassado por vários competidores o que resultou no seu abandono antes do término da prova.

C2 (médios – faixa amarela): apenas dez pilotos trabalharam com os pneus médios. Hamilton entra nesta lista por ter começado a prova com esses compostos. Porém, para muitos eles também não foram os compostos mais adequados mesmo no decorrer da corrida, por conta das baixas temperaturas e da dificuldade para gerenciar os compostos;

C1 (duro – faixa branca): os pneus duros foram trabalhados apenas por George Russell durante a corrida. O piloto fez um stint longo com esses pneus, permanecendo mais tempo na pista por conta da sua durabilidade. Russell poderia ter terminado a prova com aquele conjunto de pneus se não fosse a chuva que surgiu na parte final da corrida.

George Russell esteve perto de terminar a corrida na oitava posição, mas após um incidente com Lando Norris durante a volta 67 caiu para o final do pelotão. O competidor da Mercedes lidou com um furo de pneu, pouco depois de tentar ultrapassar o adversário, desta forma perdeu tudo o que tinha conquistado após os erros da Mercedes.

Na sexta-feira quando tivemos o único dia de pista seca durante todo o fim de semana na Holanda, os pneus duros foram avaliados, enquanto as equipes testavam as novidades que levaram para esse circuito.

Intermediários (faixa verde): foram usados por vários pilotos no começo da corrida, para contar com mais aderência e segurança. Eles precisaram retornar no final da prova, depois do período de bandeira vermelha provocado pela batida de Zhou Guanyu.

Carlos Sainz estava em desvantagem no final da corrida, pois com os pneus intermediários mais velhos do que os adversários, foi ultrapassado por Pierre Gasly e ainda precisou lidar com as investidas de Lewis Hamilton, Lando Norris e Alexander Albon que estavam logo atrás dele depois da última relargada. O espanhol manteve a quinta posição, mas foi um resultado longe do ideal, pois esperava o pódio ou a quarta posição – pois Sergio Pérez foi punido com cinco segundos por passar além do limite de velocidade permitido no pit-lane.

Apenas Esteban Ocon trabalhou com os pneus de chuva extrema, o piloto realizou a troca para esses compostos, pouco depois que a chuva começou a cair na parte final da prova. A chuva torrencial seria muito boa para Ocon se a prova não tivesse sido encaminhada para a bandeira vermelha. O francês faturou apenas um ponto, enquanto Pierre Gasly conseguiu o pódio. A Alpine optou por duas estratégias distintas, tentando cobrir esse período da prova, mas Ocon acabou sendo prejudicado pela escolha. Verstappen também passou pelos boxes para o final da prova, instalando os pneus de chuva extrema para ter mais segurança na corrida, mas não afetou o resultado do holandês.

Na Red Bull, Sergio Pérez realizou primeiro a troca dos pneus slicks para os pneus de chuva no começo da corrida, quando Max Verstappen concluiu a sua parada, retornou atrás do companheiro de equipe. Na troca seguinte aconteceu um undercut, algo que desagradou Sergio Pérez, já que o piloto voltou a ficar atrás de Verstappen, depois disso a vitória do holandês estava mais que certa.

O mexicano também prejudicou o seu resultado, principalmente pela punição recebida. Porém, se não fosse a bandeira vermelha, talvez Pérez não terminasse a prova, já que acertou o barreira de contenção na entrada do pit-lane, instantes antes da corrida ser encaminhada para a bandeira vermelha. A Red Bull recebeu a autorização para fazer as modificações necessárias e reparos, dando condições para o mexicano concluir a corrida desta fim de semana.

As voltas com cada um dos pneus – Foto: reprodução Pirelli

A chuva para o GP da Holanda adicionou uma pitada de caos e imprevisibilidade. Não teve uma estratégia bem definida por conta desses momentos que provocaram mais movimentação nos boxes. Além disso, para algumas equipes o trabalho seria mais facilitado ou igual entre os seus competidores se existisse a possibilidade de realizar uma parada dupla em Zandvoort, mas por não ter espaço suficiente no pit-lane, essa prática não pode ser realizada.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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