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Vamos falar sobre ordens de equipe?

O assunto ordens de equipe na Fórmula 1 voltou à tona no Grande Prêmio da Emília-Romagna. Isso porque Lando Norris pediu para a equipe que Daniel Ricciardo cedesse seu quinto lugar, pois o jovem britânico estava mais rápido e teria mais condições de brigar pelas primeiras posições.

O pedido foi atendido logo em seguida e, rapidamente, Norris abriu 10 segundos de vantagem para o companheiro de equipe. A estratégia funcionou, o carro #4 da McLaren estava realmente mais rápido. Competitivo a ponto de se defender de Lewis Hamilton por algumas voltas.

No fim, Norris ficou com o 3º lugar. Um pódio merecido para um jovem piloto que está se colocando como um dos protagonistas desta temporada. O prêmio de “Piloto do Dia” dado pelos fãs da Fórmula 1 também foi muito adequado a quem soube ler a corrida corretamente.

Norris encontrou um empecilho à sua frente e usou da maneira mais fácil para se livrar dele. E é sobre isso que vamos falar aqui. O objetivo deste texto não é visitar finais alternativos para a estratégia da McLaren – à la Doutor Estranho – mas sim discutir os prós e os contras da decisão da equipe de Woking.

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Quando a inversão das posições aconteceu, eu fiz o seguinte questionamento no Twitter:

A primeira resposta que recebi foi do Will Bueno (Botequim GP/Café com Velocidade).

Will faz parte do clube de fãs da Fórmula 1 que é contra as ordens de equipe. Para ele, as inversões devem acontecer na pista, como ultrapassagens. Pilotos da mesma equipe também são rivais e as ordens de dentro da garagem acabam privando o público de disputas que podem ser um grande atrativo para quem assiste.

O John Lennon concorda com ele:

Will e John são um dos extremos da nossa escala.

O Cobalto lembrou os maiores rivais da McLaren:

Pessoalmente, acredito que ninguém gosta de ordens de equipe e que a maioria pensa como a Bruna Rodrigues (Globo Esporte.com):

A Maria pensa parecido e ainda traz um questionamento pertinente.

Quem respondeu foi a Denise Vilche (Contos da F1/F1 Templo/Boletim do Paddock):

O ar limpo foi justamente um dos argumentos que Lando Norris usou para convencer a equipe sobre a troca.

“Ordens de equipe são um mal necessário”

Costumo dizer isso. Claro que eu quero ver disputas. Claro que quero ver carros brigando na pista, independente dos envolvidos serem de equipes rivais ou não. Mas eu acho que a equipe deve intervir quando achar necessário.

O que não quer dizer que eu vou concordar com todas as decisões tomadas pelas equipes. É completamente diferente.

O automobilismo é um esporte de equipe que precisa que seus pilotos trabalhem juntos para ela enquanto eles tentam superar um ao outro em cada corrida. E essa é uma das suas características mais deliciosamente peculiares.

Quando a equipe libera seus pilotos para disputar livremente, ela corre riscos de acidentes que poderiam ter sido evitados. Pegando casos mais recentes, temos Hamilton e Rosberg na Espanha (2016), Verstappen e Riccardo em Baku (2017) e Vettel e Leclerc no Brasil (2019). E o que dizer dos anos de Perez e Ocon na Force India?

Pontos preciosos, principalmente nos casos de Red Bull, Ferrari e da própria Force India, que foram jogados fora porque a equipe deixou os pilotos decidirem na pista a quase 300 km/h com milésimos de segundos para pensar e reagir.

A pergunta que eu faço é: vale a pena correr o risco, sempre?

Analisando a situação da McLaren, eles estão lutando para voltar ao topo da Fórmula 1. Eles precisam pontuar bem sempre para manter seu 3º lugar entre os construtores (ao que parece a disputa vai ser direta com Ferrari este ano). A McLaren não pode se dar ao luxo de arriscar perder pontos em disputas internas. Isso é um fato.

Zak Brown e Andreas Seidl têm que se preocupar com uma série de coisas, inclusive com saúde financeira da equipe. Briga de piloto não precisa ser uma delas.

A interferência da equipe nas posições de pista sempre vai deixar alguém insatisfeito. Seja piloto, mecânico, engenheiro, fãs, a FIA, o Liberty, o fiscal da curva 4, enfim, a decisão nunca vai agradar todo mundo.

O próprio Ricciardo não gostou da decisão, mas afirmou que o objetivo maior é o da equipe.

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O que a equipe deve levar em consideração nesse momento é: vou deixar as pessoas insatisfeitas com ou sem pontos? O que estava em jogo para a McLaren em Ímola, naquele momento, eram 18 pontos que poderiam ter sido perdidos. A troca de posições na hora certa fez com que o time saísse da Itália com 23 pontos e a 3ª posição no campeonato.

A aposta se pagou com lucro.

Claro que nunca vamos saber o resultado da possível briga de Norris e Ricciardo, mas se eles tivessem batido um no outro, podemos imaginar alguns dos seguintes cenários:

  • Dois abandonos
  • Um abandono e um carro danificado com grande perda de rendimento
  • Dois carros danificados sem a menor chance de continuarem competitivos
  • Menos de 8 pontos ao invés de 18
  • 0 pontos

Novamente eu pergunto: vale a pena arriscar, sempre?

A estratégia da McLaren deu certo, mas poderia não ter dado. Norris poderia não estar tão rápido, mas estava. Talvez Norris devolvesse a posição como Hamilton fez com Bottas na Hungria em 2017, Hamilton terminou em 4º e Bottas em 3º. São aqueles “ses” que a gente nunca vai saber no que vai dar.

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É provável que a McLaren continue com essa política até estabilizar sua situação, mas não dá pra ter certeza do que vai ser feito a partir de agora. Não sabemos quanto tempo vai durar a adaptação de Ricciardo à nova equipe e quanta vantagem Norris vai tirar do novo companheiro.

Vale lembrar que ano passado o piloto britânico também teve um começo de campeonato meteórico, mas no fim foi Carlos Sainz quem se sobressaiu, terminando em 6º enquanto Norris ficou com a 9ª posição. A história vai se repetir?

Vamos esperar pra ver.

Por agora só posso reiterar que há muito em jogo quando se fala de intervir na performance dos pilotos durante a corrida. Digo com dor no coração porque gosto de ver disputa como qualquer fã de corrida. O que eu sempre tenho em mente é que existem brigas que não valem a pena nem entrar. Por isso digo que cabe à cada equipe decidir quando intervir ou não. Se a decisão vai ser acertada e mais ou menos satisfatória é um risco que ela tem que correr.

Você concorda comigo?

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