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Raio-X: considerações sobre o não-GP da Bélgica

O Raio-X do GP da Bélgica será diferente, afinal não tivemos uma prova, então fica difícil de fazer uma análise mais completa. De qualquer forma, diante de uma pista molhada fica até mesmo complicado medir as forças, pois tanto a temperatura, quanto a quantidade de chuva, além da escolha dos compostos, abre várias possibilidades.

De qualquer forma, o texto de hoje é para falar sobre o que aconteceu, a Fórmula 1 estava acompanhada neste fim de semana de outras categorias e durante a sexta-feira, tanto a W Series quanto a Fórmula 3 foram cumprindo o seu cronograma. Na categoria feminina nos deparamos com aquele acidente onde seis pilotas bateram na Eau Rouge.

Naquele momento já sabíamos que o fim de semana seria bem complicado, diante de toda a instabilidade climática. A Fórmula 1 sendo o evento principal, acabou tomando mais tempo no sábado para realizar a sua classificação – tentando encontrar uma janela adequada para a liberação dos carros para a pista. Os outros eventos da W Series e Fórmula 3 tiveram as suas sessões adiadas.

Aqui fica a minha primeira consideração: a Fórmula 1 tem a sua disposição muita tecnologia, eles sabem exatamente com o que vão lidar durante o fim de semana pois conseguem monitorar o andamento de uma chuva, estão atentas as situações. Sabem que se as condições climáticas não foram favoráveis não terão teto para que o helicóptero decole em caso de acidente. Vocês se lembram daquele fim de semana em Nürburgring?

Alguns detalhes que precisam ser considerados, pois estamos falando em segurança. No sábado o acidente de Lando Norris não deveria se quer ter acontecido, pois aquela liberação para o Q3 já era perigosa, afinal, naquele momento a chuva havia aumentado.

Vettel deixou claro o seu posicionamento e diante da pancada dura, o alemão voltou a falar mais uma vez que a sessão naquele momento deveria ter entrado em bandeira vermelha.

Talvez o GP da Bélgica para os próximos anos possa mudar de data, ainda que ele marque exatamente este retorno das férias da Fórmula 1. Spa-Francorchamps está localizada em uma região que lida com está instabilidade climática, mas no final de agosto, é quando a situação fica ainda mais caótica.

Bom, já tivemos eventos adiados, como o GP do Japão de 2019, a passagem de um tufão impossibilitava a entrada dos carros na pista. A classificação desta etapa, foi movida para o domingo, sendo disputadas antes da prova. Mas isso é algo que o regulamento esportivo atual prevê, a classificação ainda tem uma margem, em caso de um motivo de força maior que não permita a realização da classificação e outras formas de montar o grid para o domingo.

A passagem do tufão Hagibis poderia impossibilitar as atividades da Fórmula 1 no GP do Japão – Foto: reprodução

No entanto, neste calendário tão extenso que a categoria está se propondo, as janelas para a prova ser movida para a segunda-feira, se torna algo impraticável, ainda mais neste momento, pois estamos diante de uma rodada tripla. Quem já foi a um GP, sabe que quando os carros estão no grid para o início da corrida, nos boxes os times estão desmontando tudo, pois eles precisam literalmente avançar para a próxima etapa.

Mesmo que muitos ainda guardem lembranças ‘afetuosas’ de um passado ‘menos descomplicado’ da Fórmula 1, atualmente as coisas não são mais assim. Eles estão pulando de uma etapa para a outra, cumprindo protocolos, não tem imprevisibilidades. Antes de tudo, esse esporte que tanto gostados é um negócio.

Riscos

Antes de falar sobre a corrida, não existe necessidade alguma de submeter os pilotos a riscos desnecessários. Sim, todos eles sabem que ao guiar uma máquina que passa dos 300 km/h, ou em uma categoria de base onde o carro não atinge isso, mas pode provocar danos físicos – todos sabem dos riscos e dos danos.

Não é que eles possuem medo da chuva, perderam o extinto daqueles que se arriscavam a todo o custo… Mas a questão da segurança precisa prevalecer. Não é bom para a categoria e se quer para o público se deparar com mortes e acidentes desnecessários e evitáveis.

No passado, se tivessem um pouco mais de consciência, algumas mortes poderiam ser evitadas. Mas se hoje temos a segurança disponível e um ponto que marca a evolução do esporte, é desnecessário ‘pagar para ver’.

Quanto a visibilidade, desconheço algo que possa ser possível fazer, mas quanto a melhora da aderência, penso que a categoria poderia ter pneus mais eficientes para chuva. Ainda que eles tenham as ranhuras para dispersar a água e evitar que o carro aquaplane, eles ainda apresentam problemas e não são muito confiáveis. Acredito que este deveria ser um ponto cobrado da Pirelli, pois agora teremos a introdução de novos compostos na categoria, os pneus aro 18 precisam fornecerem um desempenho melhor.

Sobre a não corrida

Desde o início da semana a chuva acabou tomando conta da região onde o autódromo está situado, a largada deveria ter ocorrido às 10h (pelo horário de Brasília) às 15h na Bélgica. Com o início da corrida se aproximando, a chuva voltou em grande intensidade e a direção de prova optou por adiar o começo da prova.

Na volta de alinhamento, Sergio Pérez perdeu o controle do carro e bateu forte. O RB16B quebrou a suspensão dianteira e teve que retornar para os boxes, em uma tentativa de a Red Bull recuperar o carro e tentar um retorno do piloto mexicano para a pista.

Pérez acaba batendo na volta de alinhamento para os boxes – Foto: reprodução

Dentre os riscos de começar a corrida naquelas condições, os carros poderiam aquaplanar, além disso, os pilotos relaram que naquelas duas voltas de formação dadas atrás do Safety Car, a visibilidade estava tão comprometida por conta do spray, que se quer era possível ver as luzes de segurança do carro que estava à frente.

Michael Masi foi mais cauteloso no domingo quando viu a chuva aumentar, pois tinha ouvido alguns pilotos e sabia que a possibilidade de correr era baixa. Além disso, somada a batida de Lando Norris, a chamada de atenção de Sebastian Vettel, uma das medidas era sem dúvidas começar a corrida com o Safety Car.

E na realidade o que indignou mais as pessoas foi a espera para saber se teríamos sim ou não a prova. Talvez aquela ação protocolar que foi realizada para validar duas voltas e dar metade dos pontos, pudesse ser realizada durante o início do evento. Acabando assim com algumas dúvidas com relação a distribuição da metade dos pontos.

O regulamento esportivo da Fórmula 1 prevê isso, se o líder da corrida completar duas voltas (não importa a forma como elas serão feitas), e elas foram dadas em regime de Safety Car. Se o líder tivesse completado 75% da prova, aí dos dez primeiros teriam a chance de receber a pontuação completa. Max Verstappen foi considerado o piloto que venceu o GP da Bélgica, acompanhado por George Russell e Lewis Hamilton. Parte do grid manteu as suas posições originais depois da classificação do sábado. 

O tempo de espera, acho que foi o pior, a Fórmula 1 certamente teve um dos dias mais vergonhosos, desde o início da categoria. Quando a situação já estava no limite do sustentável, Masi ainda congelou o limite de 1h, usando o artifício de força maior. E no final acabaram fazendo aquele teatro que a meu ver poderia ter sido feito logo no começo, quando a pista aparentava melhores condições.

Não vejo nenhum problema em aguardar o tempo que foi aguardado, até porque se uma janela tivesse aberto, possibilitando o início da corrida, muitos teriam criticado a categoria por não ter esperado.

Acredito que as regras precisam ser discutidas, algumas acabam abrindo margem para discussão, no entanto outras são mais preto no branco. A sequência de ações que foram desastrosas, mostrando em alguns momentos que eles estavam perdidos, sem controle nenhum da situação.

Para completar o show de horrores, Lance Stroll recebeu uma penalidade de dez segundos, pois a Aston Martin trocou a asa traseira do seu carro em bandeira vermelha.

Agora não tem muitos dias para o GP da Holanda, que neste caso, tem previsão de tempo firme.

Confira a pontuação

A pior coisa é ver essa pontuação quebrada agora! Mas a segurança dos pilotos está intacta. 

Com Daniel Ricciardo terminando na zona de pontuação e a dupla da Ferrari com apenas um décimo lugar, a McLaren assume mais uma vez o terceiro lugar do campeonato de contrutores. 

O pódio de Russell e o nono lugar de Nicholas Latifi é praticamente uma garantia que a Williams não perde mais a oitava posição do Campeonato de Construtores. 

Escute o nosso podcast sobre o GP da Bélgica

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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