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Os pilotos de hoje são robozinhos ou pessoas normais

Faz alguns anos que eu escuto e leio algumas críticas aos pilotos da Formula 1. E não me refiro ao que eles fazem dentro da pista, como criticas aos pilotos que são mais arrojados ou agressivos, ou usam mais a cabeça do que os pés, ou mais lentos do que os companheiros de equipe, ou que são pilotos de crash-test, ou pior ainda, que são pilotos de PlayStation.

Uma crítica antiga e ainda constante é que os pilotos da Formula 1 fora das pistas são “robozinhos”, que não têm personalidade, e sempre voltam a aquele argumento que já deu no saco: “Bom mesmo era nos anos 80!”.

Para ser sincero, antes eu pensava assim também. Mas eu era aquela “Maria vai com as outras”, manja?

Na Formula 1 nos anos passados tínhamos sim pilotos com personalidades fortes e marcantes, e podemos citar alguns. Como James Hunt, muito conhecido por ser mulherengo e adorar encher a cara. Ou como Nelson Piquet, muito conhecido por seu mau humor, ou pelo seu bom humor, mas carregado de ironias e sarcasmo, e não ter medo de falar o que pensa nos microfones da imprensa e bater de frente com sua própria equipe. Temos também Nigel Mansell, basicamente aquele “bonecão do posto”, meio destrambelhado, que às vezes precisava de um empurrãozinho para o cérebro pegar no tranco. E não podemos deixar de citar Ayrton Senna, que mesmo fora das pistas não era de brincadeiras. Sempre focado em manter a forma, preocupado com sua vida profissional sem deixar de lado a família e amigos de lado, e sua fé em Deus sempre bem evidente.

Estes são apenas alguns exemplos dos que eu consigo me lembrar. Quem for mais velho ou que tenha pesquisado mais sobre o assunto provavelmente encontrará mais pilotos de personalidades fortes e marcantes.

Mas agora eu pergunto, os pilotos atuais são mesmo “robozinhos” fora das pistas?

Vejamos Juan Pablo Montoya, que é um daqueles pilotos que podemos incluir na lista dos que “falam o que pensam” sem rabo preso com ninguém, por exemplo ao se referir a Michael Schumacher como “cego ou estúpido” sem a menor cerimônia. E que não consegue disfarçar seu estado de espírito, por exemplo quando sua cabeça encontra uma câmera no caminho.

Eddie Irvine era bem famoso por ser um James Hunt mais light. Me lembro de um comentário de Edgard Mello Filho em um Loucos Por Automobilismo bem antigo no qual ele descreve como era Eddie Irvine na época da Ferrari: “O Irvine era para tomar todas e sair com as moças.”, e em seguida ele mesmo completa: “Não que ele esteja errado!”.

Kimi Raikkonen desde seu primeiro dia na Formula 1 até hoje é muito famoso por suas respostas monossilábicas. Muitos julgam isso como desrespeito ou falta de educação com os repórteres. Mas é a personalidade dele. E não podemos deixar de citar sua total falta de comprometimento com o politicamente correto (mas afinal, não é isso que vocês tanto cobram dos atuais pilotos?), ao usar palavrões quando irritado ou dar patada no engenheiro pelo rádio.

Fernando Alonso sempre demonstrando ser bem simpático com todos os pilotos, repórteres e fãs. Mas não consegue esconder quando está frustrado ou irritado com alguma coisa (seu motor Honda de GP2) ou com alguém (Johnny Herbert, aquele piloto que não foi campeão e por isso virou comentarista). Além de alguns rumores sobre seu comportamento dentro de uma equipe, que desagradou a McLaren, em sua primeira passagem por lá, e a Ferrari. Não sei de todos na Ferrari, mas Felipe Massa já demonstrou isso nas entrelinhas em algumas entrevistas.

Daniel Ricciardo com seu sorrisão característico. E eu não sei como ele consegue, mas seu sorriso é sempre muito espontâneo e natural, nunca fica aquela impressão que é fingimento. São pouquíssimos os momentos que você não o vê sorrindo. Como ao tirar o capacete e a balaclava ao término do GP do Japão de 2014. Ali nós o vimos realmente preocupado e bem apreensivo, devido as notícias incompletas e obscuras sobre o acidente de Jules Bianchi.

Nico Rosberg e Felipe Massa são bem parecidos, por serem mais discretos, bem família mesmo, tentando não ficar nos holofotes da grande mídia. São bem comunicativos com os fãs nas redes sociais, mas não expondo sua privacidade e a privacidade de suas respectivas famílias.

Quanto aos outros pilotos, eu não vejo características notáveis ou que mereçam ser destacadas. Mas… é necessário que eles tenham? Eu acho que não, e nem antigamente era assim. O fato do Nico Hulkenberg ou o Carlos Sainz, por exemplo, não terem personalidades fortes e marcantes como os pilotos citados acima não os fazem merecer esse rótulo de “robozinhos”. São pessoas normais, que estão no seu direito de serem mais caseiros, quietos, de não precisarem se expor e expor tudo que estão fazendo.

Sabe o que eu acho mais engraçado e contraditório nos que falam que na Formula 1 atual só tem pilotos “robozinhos”? Quando criticam Lewis Hamilton por estar em festas e baladas se divertindo, ou em um estúdio trabalhando com música, ou tirando fotos com um tigre. Mas não era isso que vocês queriam? Que os pilotos expusessem mais sua personalidade e privacidade aos fãs? Mas quando o Lewis Hamilton faz isso recebe críticas de vocês mesmos. Sério, eu não entendo. Lewis Hamilton vive sua vida como ele quiser. Se (eu disse SE) isso influencia de alguma forma negativa sua performance em seu Formula 1, quem deve perceber e mudar isso é ele próprio.

Só em uma coisa me faz pensar que sim, “Bom mesmo era nos anos 80!” e vocês sabem o que é? Nos anos 80 não existia Facebook para vocês ficarem reclamando.

* Este texto foi escrito originalmente para o site Fim Do Grid, e estamos republicando com a devida autorização do autor.

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Rubens Gomes Passos Netto

Editor chefe do Boletim do Paddock, me interessei por automobilismo cedo e ao criar este site meu compromisso foi abordar diversas categorias, resgatando a visão nerd que tanto gosto. Como amante de podcasts e audiolivros, passei a comandar o BPCast desde 2017, dando uma visão diferente e não ficando na superfície dos acontecimentos no mundo da velocidade. Nas horas vagas gosto de assistir a filmes e séries de ação, ficção científica e comédia. Atuando como advogado, também gosto de fazer análises e me aprofundar na parte técnica.

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