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F1: Pista limpa e pista suja?

Ao longo do fim de semana é possível notar uma sujeira que vai se formando nas laterais do circuito. Esse acúmulo de borracha é o ‘graining’ ou como ficou popular aqui no Brasil, o ‘macarrãozinho‘. Ele nada mais é do que a granulação dos compostos, algo que acontece por conta da degradação dos pneus e expelida ao longo das voltas que são completadas no circuito.

Confira o nosso vídeo sobre o tema no quadro CENÁRIOS DA FÓRMULA 1

Então o que é o lado sujo da pista? 

Pois bem, essa área onde um graining fica situada é evitada pelos pilotos, pois essa borracha depois que é solta, prejudica o desempenho dos pneus se os competidores passaram por ela. Se o piloto passa por essa área, o seu pneu tem a superfície de contato alterada pois aquelas pelotas de borracha vão grudar no composto, gerando a falta de aderência e podendo fazer o piloto rodar, além de perder performance.

Em Mônaco sempre existem fotos sobre essa sujeira acumulada do lado externo do traçado – Foto: reprodução Alfa Romeo

Essa área do traçado que essas pequenas sujeiras vão se acumulando é evitada – nela a gente encontra principalmente borracha, mas algumas pequenas peças também podem se acumular. Por isso essa área fica conhecida como lado sujo da pista, além de prejudicar o desempenho dos pneus, quando um composto está chegando perto do final da sua vida útil, onde ele já perdeu parte da sua borracha, uma peça que está alí também pode gerar um furo.

Tem alguma ocasião que os pilotos passam por lá?

Sim, geralmente ocorre durante o final da corrida após a bandeira quadriculada, pois os pilotos precisam acumular peso. Richard Verschoor, piloto da MP Motorsport na Fórmula 2 foi desclassificado da corrida principal em Monza pois quando terminou a corrida o conjunto carro + piloto + equipamento estavam abaixo do peso mínimo.

Para acumular peso, os pilotos costumam passar por esse trecho ao final da corrida – Foto: reprodução Red Bull

O representante da MP informou que os cálculos feitos pela equipe sobre o peso combinado entre piloto e carro foram incorretos, mas algo que contribuiu para que Verschoor não atingisse o peso ideal também foi atrelado por ele não ter coletado tantos pedaços de pneu na volta de resfriamento que ocorre após a bandeira quadriculada.

O lado limpo da pista

Está área consiste no traçado ideal, aquele que os pilotos vão encontrar ao longo do fim de semana para obter as melhores voltas. Também é a parte onde terá mais aderência, por conta do emborrachamento que é formado. É justamente aquela ‘trilha’.

O piloto que conquista a pole e tem o direito de largar da primeira posição fica com o lado limpo da pista, escolhido por conta desse emborrachamento. O lado de fora da curva tradicionalmente é o adotado para a largada dos poles, pois fornece mais aderência para eles tracionarem em uma largada.

Esse ‘graining’ acaba se agarrando ao asfalto, ficando duros como pedrinhas – Foto: reprodução

Onde não tem os pedaços de pneus – que aliás quando se soltam são moles, mas quando esfriam se tornam uma parte dura e que vão se agarrando pelo asfalto. Para realizar a remoção delas e tornar a ‘pista verde’, eles usam máquinas de limpeza que espalham água em alta pressão, fazendo a remoção das impurezas, mas também de todo o emborrachamento que foi gerado ao longo de um fim de semana de evento.

Na chuva também existe o lado limpo e o lado sujo

Por mais que quando a chuva cai em um circuito ela lave o traçado, conforme os pilotos vão dando as suas voltas fica mais fácil de identificar o traçado ideal. Com a diminuição da chuva, os pilotos vão formando um trilho, pois a parte mais úmida é dispersada para o lado de fora da pista.

O lado de fora é onde a água se acumula por conta da dispersão da água gerada pelos pneus de chuva – Foto: reprodução Mercedes

A técnica de evitar o graining também vale para a chuva, pois aquela parte vira ‘um sabão’ se tornando escorregadia e gerando mais chances de o piloto rodar devido o acumulo de água e também da sujeira.

O acidente de 1990 entre Prost e Senna

O acidente do GP do Japão de 1990 que ocorreu após a largada determinou a conquista do bicampeonato de Ayrton Senna. Está era a penúltima prova da temporada. Bom, o incidente foi uma troca da batida causada pelo francês durante a prova do Japão de 1989, onde o título ficou com Prost.

Em Suzuka o piloto que largava da pole ficava do lado de dentro da reta dos boxes, a parte que não tinha aderência e o asfalto era mais sujo. Como Senna já sabia disso, o brasileiro solicitou à direção de prova na quarta-feira a inversão da posição de largada do pole position, pois o lado de fora era onde os pilotos passavam durante todas as voltas completadas do fim de semana – e fornecia mais aderência.

Antes a posição do pole era colocada do lado para onde se fazia a curva 1. No entanto, naquela época as coisas começaram a mudar e a posição do pole sofreu mudanças em pistas como Alemanha, Brasil, México e Portugal. No entanto, para Suzuka não toparam fazer a mudança.

Senna que conquistou a pole e ficou furioso com a decisão dos comissários, estava determinado a manter a primeira posição depois da largada em qualquer circunstância.

A batida entre Ayrton Senna e Alain Prost durante o GP do Japão de 1990 foi provocado por conta da escolha do lado sujo ser destinado ao pole – Foto: reprodução

Como já era esperado na largada Prost tracionou melhor que Senna, mas o brasileiro também teve uma boa largada já que usava a potência do motor Honda. Os pilotos estavam praticamente lado se chocaram pouco depois, indo em direção a brita. Com os dois fora da prova, Senna era campeão da temporada de 1990.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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