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✍️ ENTREVISTA com Sérgio Sette Câmara

Sérgio Sette Câmara está em Valência nos preparativos para a primeira temporada completa que ele vai disputar na Fórmula E. O piloto da Dragon/Penske Autosport aproveitou o “Media Day” e ausência de atividades nesta segunda-feira (30) de pista para dar uma entrevista exclusiva ao Boletim do Paddock.

Sette Câmara falou por telefone sobre sua preparação, as expectativas e seu novo desafio com a Dragon/Penske Autosport.

BP: Como foi a decisão de assinar com a Dragon/Penske Autosport? Que fatores te influenciaram?

SSC: O maior fator é que eu sempre fui um grande fã da Fórmula E, vi o crescimento da categoria, desde os primeiros anos quando eles levavam uma barraquinha branca para alguns eventos e faziam aquelas demonstrações com os carros.

Eu vi que cinco anos depois o negócio já era um evento gigante e a partir da 3ª – 4ª temporada eu já sabia que o campeonato ia estourar, que ia ter muito sucesso.

Já venho há alguns anos falando nas minhas entrevistas, quando eu era perguntado para onde eu queria ir, eu sempre dizia: “Olha, a Fórmula 1 é a maior categoria, é meu grande sonho, mas a Fórmula E é outra categoria pela qual eu me interesso muito e me profissionalizar em alguma dessas duas é meu grande objetivo”.

Logicamente, quando recebi a notícia de iria correr em Berlim, fiquei muito feliz, mas eu sabia que tinha um grande desafio pela frente. Tinha que mostrar que eu merecia a vaga e felizmente, depois das corridas, recebi a notícia de que eles tinham interesse em mim para uma temporada completa e é lógico que eu fiquei super agradecido.

Estou muito feliz com a oportunidade e trabalhando duro aqui para fazer dar certo.

BP: Então você já soube que ficaria na equipe depois de Berlim?

SSC: Isso! Pouco tempo depois de Berlim eu fui contactado pela equipe e eles disseram que tinham interesse que eu fizesse uma temporada completa, ser piloto titular.

BP: Você já está se preparando desde então? Quanto tempo você teve de preparação com a equipe?

SSC: Com a equipe mesmo foi em… bom, eu tava no Japão antes daqui, tinha uns compromissos lá ainda. Minha preparação com a equipe começou tem duas-três semanas lá na Inglaterra.

BP: Você sente diferença do carro de Berlim para esse, já que a Dragon/Penske Autosport está usando o mesmo powertrain?

SSC: São poucas diferenças, são alterações mínimas que a gente pode fazer dentro do carro que tinha sido homologado para a temporada 6. Já que tem a nova regra do powertrain e as janelas de homologação.

A maioria das equipes pegou essa janela [de usar o novo trem de força agora e mantê-lo por dois anos] e já vieram com carros novos para Valência, mas a gente deve pegar a próxima e, se Deus quiser, implementar o novo carro a partir da 4ª ou 5ª etapa.

Se Deus quiser, e se a gente trabalhar bem, vamos performar melhor. Mas por enquanto são mudanças dentro do próprio setup, coisas de software que são permitidas e tudo mais.

BP: Muitos pilotos dizem que o carro da FE é o mais diferente que eles já pilotaram, que é mais difícil. Você ainda sente dificuldades ou já está se achando mais adaptado?

SSC: O carro da Fórmula E é muito diferente, é estranho de pilotar. Não é um dos carros mais difíceis, por exemplo, o carro da Super Fórmula que eu guiei esse ano é muito mais difícil de pilotar.

O que deixa esse carro difícil acabam sendo os circuitos, o formato da corrida. As batalhas são muito agressivas porque as carenagens dos carros permitem um pouco de contato e você tem que fazer isso tudo enquanto está administrando vários comandos que chegam pelo rádio, mudanças no volante, consumo de energia…

Isso faz com que seja difícil, mas fazer uma volta cronometrada, dependendo da pista, não é tão desafiador assim porque o carro é um pouco mais lento que outras categorias a que estou acostumado e isso dá um pouco mais de tranquilidade.

Por outro lado, tem essa coisa das batalhas, mudanças de modos [configurações], consumo de energia. Isso faz com que você tenha menos atenção para olhar para a pista e passe mais tempo raciocinando.

BP: Você e a equipe já conseguiram traçar metas e objetivos para a próxima temporada?

SSC: Essa vai ser uma temporada diferente, primeiro porque vai ser a primeira vez que eu estou participando de uma temporada em que o carro vai ser completamente desenvolvido pela equipe e depois porque a gente vai ter um carro novo durante a temporada que é um negócio que não é comum, são situações excepcionais, esse negócio todo da pandemia.

Então é difícil traçar um objetivo, mas eu tenho sim algo parecido. No começo da temporada eu sei que a gente vai sofrer um pouco mais com o carro antigo, sem dúvidas, mas espero extrair tudo do carro e pegar confiança para quando chegar o carro novo, se Deus quiser, estar brigando por pontos com constância.

Esse seria um grande resultado em comparação com o ano passado.

BP: Falando no carro novo, durante o lançamento, a equipe anunciou que está investindo mais, que tem um pessoal da Penske mais junto agora. O investimento está sendo bem razoável, né? Eles também estão esperando muita coisa.

SSC: Sim, todas as equipes aqui, montadoras grandes estão investindo pesado. A Fórmula E está crescendo muito e é ótimo que a equipes também esteja encontrando formas de crescer e melhorar cada vez mais.

Estou bem confiante no projeto que eles têm traçado, espero que a gente consiga o resultado que eles merecem porque eles estão fazendo um grande trabalho. A equipe está sendo reestruturada, mudou um pouco o pessoal, a forma de trabalhar e acho que estamos indo no caminho certo.

BP: Até porque é o pessoal da Penske, né? É um dos nomes mais importantes não só do automobilismo americano, mas mundial também.

SSC: É exatamente. A Fórmula E é uma categoria tão diferente que a gente acaba fazendo um trabalho quase que independente da Penske USA, mas mesmo assim é ótimo estar ligado a eles porque não deixa de ser a mesma equipe.

BP: O que vc espera para a próxima temporada? Você falou que deve ter alguma dificuldade com o carro, mas outros desafios devem ser grandes para você?

SSC: Olha, acredito que vai ser aprender as pistas porque eu não conheço a maioria delas e são pistas que não dão muita margem para erros. Esse deve ser um dos maiores desafios, sem dúvidas.

BP: E tem alguma corrida específica pela qual você está ansioso? Mais nervoso.

SSC: Eu quero muito correr em Mônaco. Ouvi falar que tem grandes chances de ser no traçado completo, o mesmo da Fórmula 1. É uma pista que eu já conheço, então quero ver como o carro se comporta lá. Então é uma das pistas que eu mais quero correr.

Mas logicamente o cenário ideal seria se tivesse uma corrida no Brasil, seria um grande sonho se eles falassem que teria uma corrida no Brasil.

BP: Você falou que a Fórmula E era uma categoria que você já queria competir. E a gente está vendo o número de pilotos jovens aumentando a cada temporada (de Vries, Dennis, o próprio Guenther). Quais os maiores benefícios que você acredita que a Fórmula E pode trazer para a sua carreira?

SSC: Ela está 100% alinhada com o futuro dos carros de rua, o automobilismo sempre foi ligado à tecnologia dos carros de rua. A gente é uma plataforma de marketing e de desenvolvimento porque no final das contas não deixa de ser isso. Então ela está em um terreno muito fértil comparado às outras categorias.

E o formato dela é único, correr em grande centros urbanos, em grande cidades. É uma categoria que está crescendo muito.

BP: Você viu a notícia de hoje que a Audi anunciou que está saindo da categoria no final da temporada?

SSC: Vi sim. Vi a notícia, é difícil saber o porquê, mas não é algo que eu posso opinar muito. A Fórmula E é um ótimo lugar para estar e a última notícia que vi é que existe uma fila de espera para preencher essa vaga.

É ruim para a categoria perder uma marca, mas espero que essa vaga seja rapidamente preenchida por outra.

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