365 DiasColunistasDestaquesFórmula 1Repost
Tendência

O adeus antes do triunfo

05 de setembro de 1970 - Dia 107 dos 365 dias mais importantes da História do Automobilismo

Talvez eu não viva o suficiente para atingir a idade de 40 anos. Mas, até lá, experimentarei mais coisas na vida do que qualquer outra pessoa

A frase proferida pelo austro-alemão Karl Jochen Rindt sintetiza bem o que representava ser piloto de corrida durante os anos 1960 e 70. Rindt seria mais uma das vítimas dessa terrível estatística, mas com uma reviravolta histórica.

Nascido em Mainz, na Alemanha, o jovem garoto já passou por perrengues logo no primeiro ano de vida, quando perdeu os pais em um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial, em 1943. Foi acolhido pelos avós e cresceu em Graz, na Áustria, adotando assim a nacionalidade austríaca.

Como muitos pilotos, o jeito rebelde e gosto pela adrenalina em desafiar o perigo fizeram Jochen Rindt se aventurar no mundo da velocidade. Em 1964, o austríaco já se destacava internacionalmente, com direito a uma vitória apoteótica no GP de Crystal Palace da Fórmula 2, batendo nomes como Graham Hill, Jim Clark e Jackie Stewart.

Rindt continuou mostrando serviço no ano seguinte com a vitória nas 24 Horas de Le Mans ao lado do americano Masten Gregory, a bordo de uma Ferrari 250 LM de uma equipe cliente. A conquista veio de forma surpreendente, superando os carros oficiais de Maranello e os lendários Ford GT 40 na resistência. Também em 1965, Rindt estreara na Fórmula 1 pela Cooper, mas a tradicional equipe britânica estava em fase decadente e não permitiu ao austríaco voos mais altos próximos anos.

Jochen Rindt com 23 anos comemora a vitória ao lado da equipe e companheiros nas 24hs de Le Mans - Ferrari 250 LM. Fonte: @Tumblr
Jochen Rindt com 23 anos comemora a vitória ao lado da equipe e companheiros nas 24hs de Le Mans – Ferrari 250 LM. Fonte: @Tumblr

Após as passagens frustrantes pela Cooper e pela Brabham (em 1968), Rindt recebia a grande chance da carreira: pilotar para a Lotus de Colin Chapman em 1969. Ele passaria a ser o primeiro não-britânico a correr pela escuderia e teria a missão de substituir o lendário Jim Clark, falecido um ano antes.

O piloto também participou de duas edições das 500 Milhas de Indianápolis. Em 1967, com chassi Eagle e motor Ford, Rindt largou em 32º e terminou em 24º. Fonte: Indy.com
O piloto também participou de duas edições das 500 Milhas de Indianápolis. Em 1967, com chassi Eagle e motor Ford, Rindt largou em 32º e terminou em 24º. Fonte: Indy.com

O começo foi tumultuado para Rindt. Um acidente provocado pela queda da asa traseira do seu Lotus 49 durante o GP da Espanha o deixou fora de combate por mais de um mês. Nesse tempo. O austríaco escreveu uma carta para Chapman cobrando mais segurança nos carros da Lotus. Este foi um dos primeiros manifestos em prol da segurança dentro da categoria. No entanto, a epístola acabou arranhando a relação entre o piloto e o construtor.

Mesmo assim, o corredor austríaco mostrou muita força ao longo da temporada de 1969. Quando terminava, sempre foi de quarto lugar para cima. O esforço foi recompensado com a primeira vitória na F1, com o triunfo no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen. Rindt terminou o ano em quarto.

Em 1970, Rindt mostrou para a concorrência que não estava para brincadeira, especialmente impulsionado pelo novíssimo Lotus 72C. Em Mônaco, venceu em um duelo com Jack Brabham, num final surpreendente. Depois emplacou uma sequência de quatro vitórias seguidas (Holanda, França, Inglaterra e Alemanha), disparando na liderança do mundial de pilotos.

Apesar do abandono na etapa da Áustria, as expectativas estavam bem altas para o GP da Itália. Para Rindt, era a primeira oportunidade para sacramentar o título de campeão, o que poderia lhe ser a deixa para deixar a Lotus ou, quem sabe, até a carreira de piloto, afinal ainda havia o desgaste com Chapman, e agora casado e com uma filha, já pensava na vida fora das pistas.

No entanto, aquele fim de semana em Monza começou a sair de forma inesperada. Pela primeira vez, a Lotus trazia três chassis 72C para seus pilotos (além de Rindt, o inglês John Miles e o brasileiro Emerson Fittipaldi guiavam pela equipe oficial). Como novidade, os carros vieram com o objetivo de correr sem as asas traseiras, aproveitando-se das altas velocidades e da baixa carga aerodinâmica do circuito italiano.

Na sexta-feira, Emerson treinou com o carro do austríaco para amaciar o motor do bólido para o líder do campeonato. No entanto, o novato acertou a traseira da Ferrari de Ignazio Giunti e decolou para bater forte na entrada da Parabolica, acertando uma árvore, inclusive.

O brasileiro nada sofreu fisicamente (um milagre para a época), mas com o carro novo destruído, além de levar um sermão daqueles de Chapman, Emerson estava fora daquela corrida e Rindt assumiria o carro do novato.

No sábado, 5 de setembro de 1970, Rindt testava o carro sem as asas traseiras no último treino livre antes da classificação. O carro tinha um comportamento nervoso devido à baixa pressão aerodinâmica, mas o austríaco ainda sentia-se confiante no bólido. Contudo, o Lotus 72C perdeu estabilidade na freada da Parabolica e após ziguezaguear, bateu de frente com o guard-rail e saiu girando em alta velocidade ao longo da área de escape, com a parte dianteira completamente destruída.

A equipe de resgate chegou rapidamente prestou os primeiros socorros. O seu empresário, Bernie Ecclestone (sim, ele mesmo) também chegou ao local para acompanhar os procedimentos. Porém, Jochen Rindt não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo aos 28 anos. Bernie, desolado, trouxe o capacete para os boxes e logo o mundo da Fórmula 1 sentia o baque de mais uma perda.

A Lotus retirou a equipe da etapa italiana e da corrida seguinte no Canadá. Colin Chapman ainda teve que responder judicialmente à justiça italiana pelo acidente fatal como réu, afinal havia as suspeitas de uma falha nos freios como causa do acidente (embora nunca tenha sido confirmado). No fim, o construtor foi inocentado por falta de provas.

Porém, a história não acabava ali. Apesar de falecido, Rindt ainda era o líder do campeonato, o principal oponente, passava a ser o belga Jacky Ickx, piloto da Ferrari, que poderia ganhar o campeonato caso vencesse as últimas etapas.

Contudo, quisera o destino que na corrida de retorno da Lotus, em Watkins Glen, fosse justamente Emerson Fittipaldi o homem capaz de impedir o êxito ferrarista e dar à Lotus uma importante vitória, que garantia a Jochen Rindt o feito de ser o único campeão póstumo da história da Fórmula 1.

Fontes: Stats F1, GPTotal (link 1 e link 2), e Blog A Mil por Hora

Mostrar mais

Deixe uma resposta

Botão Voltar ao topo